OFICINA APOSTOU NA DIVERSIDADE DE LINGUAGENS ARTÍSTICAS PARA FIGURINOS DO E-FESTIVAL
- ANTENA
- 29 de jul. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 26 de abr. de 2023
Reportagem de Marcelo Passos/Comunicação Somos Comunidade

A figurinista e produtora Priscila Gouthier está à frente da criação de figurinos dos festivais promovidos pelo Instituto Unimed desde 2014. Na edição 2021 do Projeto Somos Comunidade, Priscila dividiu os afazeres da Oficina de Figurino com a grafiteira e artista visual Mari Flô, nascida e criada no Morro das Pedras. A dupla estabeleceu uma forte conexão e, através da vivência pessoal de Mari Flô, trouxe para a Oficina a influência visual marcante do cotidiano do Morro.
Priscila é especializada em design de joias e como figurinista e produtora vem participando, desde 2010, de diversos eventos culturais, corporativos e de projetos sociais na capital. É uma velha conhecida da comunidade do Morro das Pedras, pois, sempre tirou as medidas, cortou, moldou e vestiu todos os participantes dos espetáculos realizados pelo Instituto Unimed BH.
Já Mari Flô desenvolveu sua vocação artística ainda criança, no Morro das Pedras. Aos 14 anos, ganhou da mãe uma máquina e, por conta própria, aprendeu a costurar. Trabalhou consertando roupas e desenvolvendo suas primeiras criações. Mas, logo, iria se encantar com o grafite. Há 4 anos, Mari Flô vem espalhando suas figuras coloridas e engajadas pelos espaços do Morro das Pedras e de outras vilas e favelas da capital. É uma das primeiras e poucas mulheres trans no Brasil a desenvolver um trabalho reconhecido no grafite.
A combinação da experiência da figurinista Priscila com a vivência periférica da artista visual Mari Flô resultou numa oficina que buscou despertar o olhar dos participantes para o ambiente em torno de cada um, com a percepção menos óbvia e mais criativa das imagens do cotidiano. Os alunos tiveram videoaulas e o suporte pedagógico via WhatsApp, num total de 12 horas, entre maio e junho. Eles conheceram o processo criativo de figurinos, seu contexto histórico, novas criações e releituras, e os processos de desenvolvimento de figurinos utilizados em edições anteriores do Somos Comunidade. E também aprenderam a organizar e traduzir visualmente uma ideia, pesquisar materiais, tirar medidas, produzir e finalizar figurinos. Para as atividades práticas, eles receberam também dois kits de materiais: um para a atividade de concepção dos figurinos e outro para a costura.
Camisas doadas por médicos vestirão grupo Mira
Apesar das dificuldades do isolamento e conexão virtual impostas pela pandemia, os participantes concluíram o trabalho experimental final que foi a modelagem, costura à mão e o tingimento de camisas brancas, doadas pelos médicos coralistas do Instituto Unimed BH, e destinadas aos integrantes do grupo Mira, o núcleo de dança da Escola das Artes do Instituto. Para a aluna Kenia Camila, a experiência aguçou a criatividade na criação de uma peça assimétrica e de cores trocadas. “Fiz uma modelagem intuitiva, usando meu próprio corpo para desenvolver os moldes, depois tingi e costurei à mão, dando à camisa uma impressão mais artesanal”, explicou.
Mari Flô ajudou a encurtar a distância entre os alunos da oficina e a compreensão da realidade dos becos, vielas e quebradas do Morro das Pedras. O ponto de vista da comunidade - como ela conversa e como ela se envolve - inspirou as atividades desenvolvidas durante quatro semanas. Para a artista visual, sua participação representou um rico aprendizado ao unir as duas linguagens (grafite e figurino) numa mesma experiência criativa. Para os alunos, Mari Flô reconhece que, de outra forma, eles não teriam a oportunidade de contato com o conteúdo a eles dirigido. Por isso, considera a oficina muito importante. “A relação estabelecida entre nós propiciou a percepção de novos recursos de trabalho e criação, que dificilmente chegariam à comunidade. Quando tivemos esta oportunidade, foi demais.”
A figurinista Priscila Gouthier destaca a importância do diálogo estabelecido na versão 2021 do Projeto Somos Comunidade. Exatamente pela dificuldade da distância imposta pela pandemia, os participantes de um modo geral tiveram que superar as limitações através da conversa intensa em todos os níveis. Isso, segundo ela, propiciou um resultado mais colorido, mais alegre e com um frescor de vida e energia aos figurinos da edição atual do Somos Comunidade, distribuídos pelas quase 270 peças confeccionadas para os participantes dos eventos. Do ponto de vista estético, ela considera 2021 o ano mais bem sucedido de todos, já que mesmo longe dos participantes, desenvolvendo os figurinos e ainda sem as provas de roupa, o trabalho deu certo e não teve erros, o que provou a consistência do entrosamento da equipe.
Em relação à oficina, Priscila elogia principalmente os trabalhos finais apresentados pelos alunos que, segundo ela, demonstraram capacidade de execução da modelagem, corte e costura manual das peças sugeridas. Para a figurinista, o Projeto Somos Comunidade representa uma possibilidade de transformação de vida das pessoas do Morro das Pedras. “Eu acompanho, desde o início, as crianças que cresceram como artistas nos espetáculos apresentados. Vi esta transformação, que acaba sendo levada também para as famílias. Tem muita gente talentosa na comunidade e a oportunidade que eles precisam o projeto oferece, transformando os jovens que poderiam estar em condições muito desfavoráveis se não tivessem esta chance”, completa.
Comentários